
Falecido no mês passado aos 85 anos, Arno
Kreutz ganhou destaque no Maranhão como um dos formuladores do projeto João de
Barro, na década de 1960. “Ele já era um nome conhecido na educação quando eu
me elegi e o procurei para me ajudar a abrir este campus da UFMA”, lembrou o
ex-prefeito de Chapadinha José Almeida em vídeo produzido para a educação.

Também na UFMA, em São Luís, Arno
Kreutz foi professor da diretora de Ensino da FAP Nony Braga, marcando sua
formação a ponto de ter sido homenageado por ela no nome da entidade
mantenedora da FAP, o Cresu (Centro Regional de Ensino Superior Arno Kreutz). “Ele
é a nossa referência, ele não era, ele é! O físico dele não está conosco, mas a
voz dele ecoa nos nossos saberes e fazeres”, afirmou a professora. “Ele tinha
uma voz pausada, atenciosa. Ele mais ouvia do que falava, e quando falava deixava
bem claro o cuidado dele em orientar o outro”.
O ato contou com a presença de Álvaro
Kreutz, filho do professor Arno, e com o pronunciamento de outros alunos e
professores e conviveram com ele.
Confira na íntegra o texto escrito
pela professora Nony em homenagem ao professor Arno Kreutz:
À Comunidade Educacional do Alto
Munim e Baixo Parnaíba,
~
Segundo Mário Quintana: “...
nada nasce do ar...”
Acreditamos
que a identidade profissional do professor configura-se nas marcas históricas
da sociedade de um tempo, transpassada pelas subjetividades de cada um,
mediante as experiências e sentimentos de homens e mulheres que nascem com
missões a cumprir, nascem dessa vontade para atender aos reclames de viver a
vida. Compreendemos que os atos e os laços eternizam nossas vidas, sobretudo no
ofício de ensinar e aprender, portanto, nada nasce do ar, como diz Mário
Quintana.
Assumimos,
então, o compromisso de conviver, alimentando a certeza de que não podemos
caminhar sozinhos, buscamos no outro a nossa “alteridade” nesse encontro da
força física com a força da alma que traz a escolha do aceite da mão estendida
por meio do sorriso, do abraço, da palavra carinhosa, encontrando a
generosidade peculiar a nossa condição de existência humana. Como diz Eduardo Galeano: “[...] somos o que
fazemos para transformar o que somos”.
O
Professor Arno teve e tem um papel fundamental na vida de muitas pessoas. Sua
voz está eternizada nos saberes e fazeres profissionais de gerações que
caminharam aprendendo e compreendendo que as lições de seu tempo estão prenhes
de ensinamentos que envolvem princípios éticos, dignidade, cidadania e
moralidade, associados ao desejo de amar e ser amado, de sorrir e cantar em
versos e prosas a beleza de viver a liberdade, plenamente.
O nosso
Mestre Arno Kreutz foi um homem emotivo, um sonhador. Nas suas falas
encontrávamos sempre uma pergunta, uma indagação, uma crítica reflexiva.
Gostava de ouvir músicas maranhenses, apreciava uma boa leitura, adorava
conversar sobre política e amenidades. Segundo ele, a bilharina e uma cerveja
geladinha, antes do almoço, formavam uma dupla legal. A sua ausência entre nós
é percebida, porém, as inúmeras lembranças que temos nos fazem querer
compartilhar com os nossos filhos, netos, amigos, alunos e com a atual geração
de professores o seu legado. A sua luz e bondade estavam sempre estampadas em
seu sorriso manso. Precisamos então, celebrar a sua vida, porque ela é uma
inspiração para as nossas humanidades.
Pedagogo
pela Universidade Federal do Pará (1962) e mestre em Educação pela Fundação
Getúlio Vargas (1982), Professor Arno Kreutz foi um etnógrafo, um antropólogo
entusiasta pelos estudos da vida do povo do campo. Investigava as condições e
as possibilidades da vida humana no lugar e no tempo. A sua dissertação de
mestrado traduz essa assertiva. O objeto de estudo de sua pesquisa foi “As
populações rurais do Estado do Maranhão”, tendo como recorte, “o processo de
educação integral em nível elementar”, um Projeto experimental do ano de 1967
da Secretaria de Educação do Estado, que objetivava inserir o homem rural no
processo de desenvolvimento socioeconômico racionalizado.
No ano
de 1970, o Professor Arno Kreutz juntamente com Raimundo Medeiros Lobato, o
primeiro Diretor Geral do Centro Educacional do Maranhão (CEMA), Ivo Anselmo
Hohn, Jales Costa e José Manuel de Macedo Costa formaram a equipe técnica para
implantação do projeto que promoveria o ensino à distância CEMA/TVE. Arno
Kreutz foi um profissional à frente de seu tempo, uma pessoa que nos fazia
querer estudar, aprender. Professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA),
foi Chefe de Departamento de Assuntos Estudantis da UFMA, foi um dos
idealizadores do Curso de Graduação em Estudos Sociais e do Campi de
Chapadinha, desenvolveu projetos de extensão em diversas comunidades dos
bairros da cidade de São Luís e do estado, inclusive no município de Nina
Rodrigues. Todos os projetos direcionados aos jovens acadêmicos e/ou aos que
cursavam o segundo grau, à época. Foi ligado ao Sistema de Educação do Estado
do Maranhão e contribuiu como Professor Benemérito da Faculdade do Baixo
Parnaíba (FAP) nos primeiros anos de sua implantação.
Diante
de tantas contribuições só temos a agradecer a oportunidade de ter caminhado
com você, Professor Arno, nesta grande jornada que é a vida. Foram dias...
anos.... de lições e de ideais compartilhados com pessoas de universos
distintos. As suas memórias estão eternizadas na vida, nos sonhos e esperanças
de tantos outros que virão. Hoje, como sua aluna da turma de Pedagogia de 1986
da UFMA e amiga de longas caminhadas, ergo um brinde a sua história. Como diz
Rubem Alves: “Ensinar é um exercício de imortalidade”. Porque de alguma forma
continuaremos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia
da nossa palavra. O professor assim, não morre jamais...
Chapadinha (MA), 4 de setembro de
2019.
Profª Ma. Nony
Braga
Diretora de Ensino
da Faculdade do Baixo Parnaíba
Da assessoria
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